A vocação do oblato

Dom Alfério Caruana, OSB

O caminho vocacional do oblato beneditino, como de todo batizado, dirige-se ao sacrifício, ao imolar-se e carregar a Cruz, não com tibieza, mas com força e gratidão. Pois graças à grande “loucura” do Cristo, a oblação conduzirá,
através do fogo da purificação,às águas de um novo batismo que despertará o homem novo: morte e ao mesmo tempo, renascimento.


O fogo representado pela Palavra de Deus, “a espada do Espírito” (Ef 6,17), muitas vezes “eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes” (Hb 4,12). Fogo que arde no peito de todo cristão e o ilumina a fim de que possa ser “luz do mundo” (cf. Mt 5,14-16), uma vez que atinge com frequência a lâmpada divina que perenemente ilumina os seus passos (SI 118, 105: “Tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho”).

Neste renovar-se está o «morrer para o mundo”, o “morrer para si mesmo”, não em termos puramente físicos que poderiam encobrir pensamentos e ações discordantes da misericórdia divina — da qual o Antigo e Novo Testamento são plenos de exemplos — porém, sem dúvida, densos de obscura e diabólica natureza. A vocação é de fato vista como dom ao Senhor e oferta aos irmãos. Dom e oferta que se consolidam em testemunho vivo da Palavra e onde nos próprios confrontos o sacrifício se põe como elemento de prova e de Caridade (ver este termo principalmen-te em São Paulo) para com a comunidade à qual o oblato levará o seu exemplo.

Tornar-se, pois, Mensageiro de paz, sinal de renúncia aos prazeres que conduzem a outros lugares, mas não ao prazer de doar-se aos próprios amigos e inimigos, como incansavelmente nos ensinou Jesus, com aquela humildade que é sinal de maturidade e grandeza interior, que fez Maria dizer: “Eis--me aqui, sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Neste “Eis-me aqui” está toda a “legislação” de quem quer colocar-se no seguimento de Jesus, sem pôr obstáculo, sem queixas. Aqui, nesta expressão, está o verdadeiro “holocausto’; a verdadeira “morte” e ao mesmo tempo a ressurreição. O Cristo mesmo, «homem sujeito à dor, familiarizado com o sofrimento” (Is 53,3), se dirige ao Pai: “Se queres, afasta de mim este cálice!” (Lc 22,42) mas, imediatamente: “Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita” (INd.). Tudo se devia cumprir, e certamente o sacrificio de Cristo é aquele do Homem-Deus, irrepetível para o homem. No entanto torna-se exemplo, lei, ponto de partida para quem, como oblato beneditino, quer imolar-se pelo próximo, tornando-se “oferta eterna” (SC 12).

Uma vocação que vem do desígnio divino (Rm 8,28) e que com a ajuda do Espírito Paráclito deve ser aceita com alegria plena, com uma gratidão que jamais terminará, pois prosseguirá no futuro; já neste mundo dará porém ao oblato a possibilidade de realizar uma “missa cotidiana”, pois: «Todas as suas obras, orações e iniciativas apostólicas, a vida familiar e conjugal, o trabalho cotidiano, o descanso do espírito e do corpo, se forem realizados no Espírito, e até mesmo as contrariedades da vida, se levadas com paciência, convertem-se em sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (cL IPd 2,5); e na celebração da eucaristia, tudo isso é oferecido piedosamente ao Pai, juntamente com a oblação do Corpo do Senhor [e do seu Corpo Místico]. Assim também os leigos, procedendo santamente, em toda a parte como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo” (LG 34).

Oblatos, portanto, também como instrumentos de paz, de paciência, de bondade para serem reconhecidos no mundo como “filhos de Deus” (Mt s,s) 

(Retirado do livro "Teologia da oblação" de dom Alfério Caruana, da editora subiaco)

Um comentário:

  1. Obrigada pelo texto.
    Estou precisando tomar uma decisão a respeito da minha vida profissional e este texto iluminou muitos aspectos.
    Um abraço

    Isabel (Ir Pietra)

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