Visita Pastoral do Papa a Subiaco


Senhor Presidente da Câmara Municipal,

As nobres expressões com que Vossa Excelência, interpretando também os sentimentos dos membros da Administração Municipal e de toda a população de Subiaco, quis tão gentilmente dar-me as boas-vindas, são para mim motivo de sincero aprazimento pelo alto sentido de hospitalidade, que tanto distingue esta terra, bem conhecida não só pela sua secular adesão à Sé Apostólica, como Vossa Excelência bem recordou, mas também pelas queridas recordações, deixadas pela presença de São Bento Abade. Agradeço-lhe, portanto, e a todas as Autoridades Religiosas, Civis e Militares, que aqui se encontram associando-se à deferente homenagem.

Neste ano dedicado à memória de São Bento e de Santa Escolástica, sua irmã, depois de ter visitado Núrsia, cidade natal dos dois Santos, e Monte Cassino, considerado a Casa mãe da Ordem beneditina, não podia deixar de vir em piedosa peregrinação aqui a Subiaco, onde São Bento passou grande parte da sua existência terrena e esperou conseguir aquela perfeição evangélica, isto é, aquela "escola do Serviço do Senhor", que em seguida devia dilatar-se e afluir às comunidades dos primeiros treze mosteiros, por ele fundados nos montes circunstantes e ao longo do Vale do Aniene.

Subiaco, com o Santuário da Sagrada Gruta, com o seu verde, com a sua paz e com as suas águas límpidas, permanece sempre um lugar privilegiado, que nada perdeu daqueles antigos atrativos, que molduraram a figura solitária e também social do grande Fundador do Monaquismo do Ocidente. Aqui ele reformou-se a si mesmo para depois reformar a sociedade, aqui o seu espírito planeou aquela grande revolução, que teria encontrado depois definitiva expressão na Regra, escrita em Monte Cassino, mas já aqui concebida e reflectida no profundo do seu coração e na solidão destes lugares tornados já sagrados à devoção do povo cristão.

Pode-se num certo sentido falar portanto de Subiaco, como do berço do espírito beneditino, que depois teria atingido e fermentado povos inteiros até fazê-los sentirem-se unidos numa só cultura e numa só fé. Ele de facto foi um Homem que soube harmonizar alma e corpo, natureza e graça, o social e o espiritual, o antigo e o novo, para criar, talvez sem o prever, uma nova civilização: a civilização cristã. Com efeito, como já tive ocasião de dizer em Núrsia: "Numa época de mudanças profundas, quando a antiga estrutura romana começava a derruir e estava para nascer uma sociedade nova sob o impulso de novos povos que apareciam no horizonte da Europa, ele assumiu responsavelmente a própria parte, que foi proeminente, de compromisso não só religioso, mas também social e civil. Promoveu o cultivo racional das terras, contribuiu para a salvaguarda do antigo património cultural literário, influiu na transformação dos costumes dos chamados "bárbaros"... E isto não ao nível de um mesquinho e então desconhecido nacionalismo, mas, através dos seus Monges, em dimensões continentais, pelo que, e justamente, o meu Predecessor Paulo VI o proclamou "Padroeiro da Europa".

É precisamente para venerar tão grande Padroeiro, que hoje os Representantes das Conferências Episcopais da Europa vieram em peregrinação a Subiaco. Eles, ao celebrarem juntamente com o Papa o centenário beneditino, querem agradecer ao Senhor tudo quanto foi concedido à Europa por meio de São Bento e repropor os seus ensinamentos a fim de que se readquira a dimensão do divino em toda a realidade terrena.

Com estes sentimentos, ao formular votos pela prosperidade e pelo bem-estar desta Cidade, reconstruída com generoso esforço após as devastações da guerra, imploro sobre todos os seus habitantes o Patrocínio de São Bento, e a todos abençoo no nome do Senhor.

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II AO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SUBIACO

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